Curitiba e a retórica do medo

Fui pela primeira vez a Curitiba em julho deste ano e me encantei pela cidade. Há muito queria conhecê-la, mas ela nunca era prioridade nas minhas férias e o que eu ouvia das pessoas é que a cidade não valia a pena, pois não teria o que conhecer e por outro lado, que era uma cidade racista. O racismo era o de longe era o que me deixava mais mordida, mas como boa viajante, sabia que eu precisava experienciar a cidade através do meu olhar.

A cidade me acolheu muito bem, conheci pessoas incríveis no Motter Home Hostel e me lancei junto à minha amiga Mariana pelos lugares que conhecíamos apenas pela internet e pelas indicações de amigos e dos novos amigos feitos em meio à viagem.

Curitiba é uma cidade pequena aos meus padrões de paulistana. A pecha de boa infraestrutura do transporte é uma falácia, pois a circulação e disponibilidade de ônibus só é eficiente nos bairros mais centrais.  Por outro lado, a piada que circula é que o curitibano é antisocial e antipático, desta forma, ele só se relacionaria com outros curitibanos em lugares específicos, o que faria com que eles boicotassem estabelecimentos novos e saísse pouco de casa. Não lido bem com essas falas totalizantes, mas de fato, o que vi é que poucas pessoas circulam nas ruas a pé.

A crise bateu à porta e os brasileiros sabem bem. A cidade que expulsou as pessoas mais pobres para as cidades satélites, que conformam a grande Curitiba, viu a crise trazer à sua porta pessoas em situação de rua. Junto com a quantidade de pessoas que foram lançadas às ruas da cidade,  cresceu a retórica do medo. Quase todos que conheci e moram ali falam em medo. Há o medo de sair nas ruas e assim, você vê pouquíssimas pessoas circulando a pé depois das 18h. Mesmo nos bairros centrais, há muitas vezes poucos carros circulando. Por outro lado, alimentando a retórica do medo, temos a ausência de faróis de pedestres e as ruas mal iluminadas.

Se o medo fala em nome da proteção, ele acaba por sua vez provocando uma segregação social e cada vez mais, a população deixa de ocupar o espaço público, se fechando em propriedades privadas e se silenciando. Para mim, esta realidade é um tanto quanto sufocante. E para você?

 

Um comentário em “Curitiba e a retórica do medo

  1. É complicado, né? Eu fui há uns anos, amei a cidade, mas das poucas pessoas que moram lá e que conversei, a visão é outra (claro, a visão do morador é bem mais realista que a do turista). Tbm penso muito nessa questão de ocupar o espaço público ou, por medo/segurança, se recolher… e não tenho uma resposta, mas adorei a reflexão!

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