diálogos: e quem simplesmente ama viajar, mas não quer largar tudo?

por Thaís Carneiro

celulardathais 083É perturbador ler em tantos lugares sobre a ideia do jogue tudo para o alto, se jogue e corra atrás dos seus sonhos. Mas, espera, que sonhos? Por que os meus sonhos não são conciliáveis com a minha vida ? Por que são sonhos e não planos?

O que me pego questionando é se de fato não minha vida estabelecida para ser uma nômade digital e viajar o mundo, por conta do meu comodismo. Por muitas vezes, caio nessa falácia de que obviamente sou uma pessoa acomodada que não sai da minha zona de conforto. E aproveita para cair na ideia de que a única forma de viver a vida de fato é quebrar com a ideia da vida típica de classe média (apesar do quê, atualmente, está bem difícil chegar nesse nível de american way of life) e, enfim, viver só se materializaria através de viagens. Bastante dessa perspectiva é endossada por Ruth Manus neste artigo “A geração que encontrou o sucesso no pedido de demissão”.

Por outro lado, me bateu a ideia de “e quem não pode largar tudo?”, como colocou Yasmin Gomes em seu artigo “A juventude que não pode largar tudo para viajar o mundo ou vender brigadeiro”. Esse traz a perspectiva de quão nocivo e frustrante é colocar o abandono de uma vida estabelecida como a única saída para ser feliz. Falar das trocas de privilégios para quem não os têm se torna cômico. Mesmo tendo consciência de que sou privilegiada socialmente, por ter tido acesso a uma educação pública de qualidade, feito uma pós-graduação e ter um emprego estável que me permite viajar com certa comodidade, ainda estou bem aquém de uma série de pessoas. Várias dicas de economia de viagem não servem para mim: não tenho carro nem casa própria, não me divirto em compras nem no salão de beleza, levo mil marmitinhas para o meu trabalho. E, então, deusas, como economizar para ter esta “vida de sucesso”.

Por fim, a outra perspectiva de questionamento que tive e com a qual eu mais me identifico nesse momento da minha é “e quem simplesmente ama viajar, mas não quer largar tudo?” Poderia dar uma justificativo do tipo: como sou canceriana, não quero abandonar o lar. Mas o que há de fato é toda uma conjuntura em que para a minha vida atual viajar pelo mundo sem data de volta não faz parte dos meus planos, não só pela minha vida de casada, como também pelo cuidado com os nossos gatos (são animais que não curtem mudanças constantes), pela vontade de um lugar para chamar de nosso e os planos de terminar os meus estudos por aqui.

Desta forma, creio que nos falta um olhar sobre a vida em si de que a mesma não deve ser atrelada a tendências, a um código de conduta do que é conservador e arcaico ou do que é libertário. Vale mais olhar para si e entender em sua fase de vida o que te faz sentido. Já pensei que a minha solução de vida era ser nômade digital, mas como o Felipe Pacheco coloca em seu artigo “Pedir demissão não vai resolver todos os seus problemas”, não faz sentido pedir demissão de um trabalho se você não promover uma mudança interna. Por outro lado, já sofri com a ideia de que eu não podia largar tudo quando eu mais quis.

E vocês? O que acham dessas perspectivas?

 

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