Há meses atrás, Angélica Lourenço veio me contar sobre um mini documentário que estava fazendo em meio a um mochilão pela América Latina. Meses depois, o Solo Trip for Nosotras ganha o mundo como um trabalho que através de entrevista com mochileiras que estão vivenciando suas viagens sozinhas.

 

O que é viajar para você?

Viajar é sair por algum momento da experiência já adaptada em nós para tecer novas sensações e vivências.

Você acredita que o fato de ser uma mulher influencia de algum modo a sua experiência como viajante?

Sim, com certeza. Acredito que nessa estrutura social e de gênero em que vivemos os riscos que as mulheres correm são maiores. Mas também porque existe todo um aparato social que nos convence desde criança da nossa vulnerabilidade e da necessidade do outro para a nossa própria realização. Um grande desafio é saber lidar com esses riscos sem perder o encanto e a vivência da viagem. É a tentativa de testar o equilíbrio entre ser cuidadosa e sensata mas também aproveitar e viver o momento. De modo geral, cada pessoa adota seus meios para sentir-se confortável ao lidar com situações novas, no entanto, a estrada é a nossa realidade e estamos propensos a toda e qualquer interferência externa quando realizamos essa escolha.

Há alguma experiência de viagem que se destaca e você considerou mais especial?

Essa pergunta é muito difícil de se responder, sempre que me perguntam qual o lugar mais bonito, qual viagem que gostei mais é complicado de descobrir, até hoje não sei! É clichê, mas cada viagem tem algo especial, mesmo com os perrengues e tudo mais. Mas o que me vem agora na memória, dentre as muitas que são tão importantes quanto, foi minha parada rápida em Sucre, na Bolívia. Uma cidade que parei sem nenhuma pretensão pois estava no meu caminho, e de fato poderia ser outro lugar qualquer, pois o que mais importou neste caso foram os encontros que tive e as experiências que nasceram desses encontros. Acho legal isso, as situações e as pessoas inesperadas que surgem quando se está aberto ao novo ou mesmo quando não se está e mesmo assim as coisas acontecem. E também a minha última viagem, mais fresca na memória, para o Alto Xingu que foi incrível. Me senti muito feliz pelas pessoas que conheci e por mergulhar um pouquinho mais na natureza do interior do Brasil e conhecer um pouco mais das culturas indígenas do Mato Grosso, essa foi uma viagem muito importante para mim.

Como surgiu a ideia de criar o documentário Solo Trip for Nosotras?

A ideia surgiu quando duas amigas que iriam viajar comigo desistiram de ir e assim resolvi ir sozinha. A partir de então, comecei a pesquisar sobre os lugares que gostaria de visitar e de voluntariar, sobre conteúdos online relacionados, buscar por depoimentos sobre viagem solo especificamente para mulheres e depois dessa pesquisa vi poucos depoimentos em português de mulheres contando realmente como é a realidade da viagem solo. Percebi que poderia aproveitar esse momento, já que estaria fazendo uma viagem e conhecendo muitas pessoas e gerar algum conteúdo para compartilhar com mais mulheres que também possuem essa vontade. Decidi fazer pequenos vídeos a partir de entrevistas e da coleta de depoimentos e depois, se tudo isso funcionasse, a ideia era de reunir todo esse material em um grande vídeo ou documentário. Durante a viagem, sempre que surgia uma oportunidade ou quando conhecia mulheres que se encaixavam no perfil eu perguntava se tinham interesse em participar do projeto e para minha surpresa todas se mostravam muito interessadas e entusiasmadas em falar no assunto.

Quais são os planos para dar continuidade ao projeto?

Por hora o plano é o de continuar divulgando o documentário para que ele tenha um alcance cada vez maior e mais mulheres tenham acesso a essas informações.