Medo de si, medo do Outro

Em minha primeira viagem sozinha, fui recebida com falas de estranhamento, pedidos de cuidado e um sensação de medo me invadiu. Anos se passaram e a retórica do medo persiste. Ouço-a de mulheres que escrevem relatos ou me pedem ajuda. O que paira é um medo do Outro. Um Outro não personificado, sem rosto. Um Outro que é construído a partir de um eu, do nosso eu.

Meu intercâmbio em Buenos Aires (2010)

Por vezes, quando falei do medo, me referi a uma ameaça externa. O desconhecido é que provoca medo. E quando o que nos provoca medo não vem de fora? Ao viajar só, nos deparamos muitas vezes com uma realidade que difere do nosso cotidiano. Pensando em minha própria experiência, este tipo de viagem me faz deparar com dois temores: o medo do Outro e o medo de si.

É mais recorrente falarmos de algo que está fora de nós. Mas quando entramos em contato conosco? A realidade de uma viagem sem acompanhantes nos permite isso. Conheço muita gente que não topa viajar só por conta deste choque. Há um sentimento de coragem, um espécie de desbravar ao se lançar pelo mundo sozinha.

Viajar sozinha

O tema viajar sozinha é cada vez mais recorrente na mídia e desde a morte das turistas argentinas no Equador, no começo de 2016, há um olhar mais atento ao assunto. Muito se fala de mulheres jovens viajando sozinhas e/ou na companhia de outras mulheres. Porém, porque todas são encaixadas na categoria sozinha?

Como o feminismo me ajudou a viajar sozinha?

Cotidianamente, estou cercada por pessoas. Moro em uma das maiores cidades da América Latina e vejo o tempo todo circular gente nas ruas, em meu ambiente de trabalho, familiares e amigos, em meus ambientes de lazer. Em São Paulo, tudo é grande, som e movimento. É difícil silenciar. Quando viajo, só silenciar a minha mente é um processo difícil.

Somos seres sociáveis e diante das relações que estabelecemos há um dificuldade em estar só. Muitas vezes entendemos que uma pessoa está sofrendo por não ter uma companhia ao lado. A solitude está associada à solidão e carrega uma forte conotação negativa.

Sobre viajar sozinha e não estar só

Apesar de adorar viajar sozinha, muitas vezes sofro a ideia de que determinado rolê não posso fazer por não ter companhia. Em determinados espaços, não me sinto confortável como em shows, por exemplo. Torna-se um problema quando deixo de viver experiências que eu gostaria por não ter alguém ao lado. Um passo é repensar esses sentimentos e quebrar paradigmas que fui construindo. Reinventar-se.

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