Como é ser a fundadora do primeiro hostel de Brumadinho?

No finalzinho de 2017, o Mulheres Viajantes foi comigo para Minas Gerais e lá aproveitei para conhecer um pouco de Brumadinho e Inhotim. Digo um pouco, pois três dias na cidade, sendo que dois foram para o instituto é assumir que conheço bem pouquinho. O gostoso de viajar é as surpresas que as descobertas nos trazem e saber todas as possibilidades de Brumadinho, me deixaram muito animada para poder voltar lá e aproveitar tudo o que a cidade tem a oferecer!

A cidade ficou conhecida com a criação do polêmico Instituto Inhotim, o maior museu a céu aberto da América Latinha, que fez com que o mundo lançasse o seu olhar para o interior de Minas Gerais e com que a população de lá tivesse o contato com um novo mundo, o das artes e seu público. Porém, a cidade traz outros elementos para o viajante disposto a experienciar. Entre eles, podemos elencar cachoeiras, saltos de parapente, degustação de cerveja artesanal, vista do Topo do Mundo, igrejas, entre outros. Há uma proposta muito interessante de turismo de experiência, que descobri conversando com a Natália Farina, fundadora do primeiro albergue de Brumadinho, o Hostel 70.

Turismóloga, ela conduz além do albergue, outro projeto muito interessante na cidade: Além do Inhotim, uma perspectiva de turismo de experiência. Assim, ela tem coletado uma série de atividades que podem ser realizadas pelo viajante diante de sua estadia na cidade. Para acompanhar mais este trabalho, dêem um pulo no instagram De rolê por Brumadinho, em que ela conta não só passeios possíveis, como personalidades incríveis da cidade. Afinal, viagens são feitas de encontros, não é?

Pôr do Sol no Topo do Mundo
Foto por Lucas Gobatti

Me hospedei no próprio Hostel 70 (e logo mais, teremos um texto completo contando esta experiência) e esta hospedagem foi cortesia da instituição. Como já conversamos aqui, a minha proposta enquanto viajante é a troca e a construção de experiências. A melhor forma que eu pude fazer isto, foi sentar em uma noite pós visita ao Inhotim com a Natália para uma entrevista. A conversa foi se desenrolando de uma forma em que nem vimos o tempo passar e já estava tarde da noite. Até live no instagram teve! Se você não segue o Mulheres Viajantes ainda, aproveita para seguir: @mulheresviajantesblog.

Como qualquer empreendedor, a Natália enfrentou algumas questões ao estabelecer o seu negócio. Porém, é necessário aprofundar esta análise, pois dois elementos fogem à dita normalidade. Estamos falando de uma empreendedora: uma mulher sozinha, em uma cidade no interior de Minas, empreendendo com um negócio que ninguém sabia o que era, um hostel. A recepção dos citadinos foi ZERO calorosa. Ela me contou que ouviu de tudo sobre o 70: ali seria um prostíbulo, ponto de tráfico de drogas, de aliciamento e por aí vai. Chegou a enfrentar gente gritando na porta do albergue, dizendo que ali era o lugar do demônio!

Natália Farina, Hostel 70

Vinda de Belo Horizonte, esta mineira poderia largar o empreendimento e deslocar o seu foco de trabalho para outro lugar. Porém, ela permaneceu diante do potencial do seu trabalho e foi aí que o seu negócio não só deslanchou com a vinda de mochileiros, turistas vindos para apreciar o instituto Inhotim, como permitiu o surgimento de outros albergues na região, como o Hostel Moreira da querida Fernanda.

É muito importante a gente levantar a seguinte questão: se quem tivesse fundado o hostel 70 fosse um homem, a população teria tido o mesmo tipo de retaliação? Complicado lançarmos este olhar para o passado, mas é relevante buscarmos a interpretação de situações em que o machismo atua de um modo muito assertivo. Quantas mulheres não abandonaram seus projetos, carreiras e sonhos por retaliações?

Esta poderia ser apenas uma reflexão minha, que ouvi a Natália, mas a própria em nossa conversa deixou claro o quanto o seu trabalho sofreu entraves por contato da falta de credibilidade. A perspectiva de que você sendo mulher não pode ou não saber fazer isto ou aquilo é uma constante em nosso cotidiano. Afinal, destas discussões surgiu o termo mansplanning, que nos ajuda a pensar o assunto. Aproveitei para trazer uma definição estabelecida na Revista Capitolina:

“o termo, que vem do inglês, quer dizer algo como “explicação masculina”. Você logo vai se lembrar de algum exemplo de um conhecido seu, homem, tentando te explicar um assunto que você provavelmente domina mais que ele.”

A Natália, além de ser uma querida, uma pessoa repleta de ideias e daquele tipo que coloco-as em prática com coragem e planejamento, me permitiu ter um novo olhar sobre aquele que está atrás da instituição. Este exercício que muitas vezes se perde no cotidiano é essencial, pois devemos muito mudar a nossa lógica de serviços no Brasil em que aquele que consome se esquece de todo o processo que permitiu aquele produto, aquela experiência ser construída e chegar até você.

Thaís Carneiro do Mulheres Viajantes & Natália do Hostel 70

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