Uma revolução em mim

Sabe aquela sensação de transformação avassaladora? Aquela sensação de que os nossos referenciais se modificaram? Sinto que independentemente da duração temporal da experiência, o que nos transforma de fato, é a intensidade da experiência e a ação consciente ou não, de nos permitir experienciar.

Como coloca o filósofo Jorge Larrosa Bondía,

“A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece. Dir-se-ia que tudo o que se passa está organizado para que nada nos aconteça. Walter Benjamin, em um texto célebre, já observava a pobreza de experiências que caracteriza o nosso mundo. Nunca se passaram tantas coisas, mas a experiência é cada vez mais rara.”

BONDÍA, JORGE LARROSA. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, n. 19. 2002. p 21.  

Muitas vezes não percebemos as zonas de conforto que criamos e os paradigmas nos quais nos apoiamos. Viajar, para mim, é muitas vezes, sentir essas estruturas se abalarem. O “não posso”, “não quero”, “não consigo”, “não faz sentido” acabam ficando fora de lugar. Me valendo do Roberto Schwartz, as próprias ideias ficam fora de lugar. Faz-se necessário se permitir mudar.

A minha última viagem, a São Thomé das Letras, foi algo completamente revolucionário. Como construí um novo paradigma com o meu companheiro, um estilo de viagem só nosso, temos um jogo de concessões e de vontades que são específicos. Viajar com mais gente, exige a construção de um novo jogo de relações. Desta viagem, viajamos com um novo casal e a sintonia foi maravilhosa! Soubemos atuar no espaço de cada um. Essas novas companhias me permitiram transcender alguns pontos que eu considerava limitações.

As limitações que me impediam de experienciar eram justificadas por elementos físicos: o medo, o joelho operado, a vertigem, o sedentarismo, a falta de fôlego e o sobrepeso. Nessa viagem, cheguei ao que eu considerei um esgotamento físico mais de uma vez. Foi algo muito intenso pois aproveitamos dois dias inteiros, em que visitamos nove cachoeiras e outros pontos turísticos como mirantes pela cidade. Porém, esse cansaço não me boicotou. A exaustão me levou a uma plenitude mental inexplicável. É como se tivesse rolado um reset nas tensões e eu começasse a ter um novo olhar sobre as mesmas situações e o meu corpo. Afinal, a vida é isto, transformação!

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