diálogos: E ele deixa?

Quantas vezes você, mulher, já escutou isto? Geralmente, o ele deste questionamento é o nosso companheiro. Somos educados para estar sempre condicionadas à vontade e autorização de alguém. Nos é sempre colocado que não temos autonomia para poder agir da forma que queremos.

Diante desses cobranças cotidianas, torna-se muito difícil estabelecer um olhar distanciado e enxergarmos em meio ao redemoinho da vida que estamos cercadas. Desta forma, após viver anos de opressão em tantas áreas, acaba tornando-se difícil nos desvencilhar.

Após um relacionamento abusivo, sinto que é uma luta diária comigo mesma afirmar as minhas vontades e não me deixar levar por uma posição subalterna ao meu companheiro. Por mais que ele não tenha uma postura de cobranças como o meu ex tinha e aja de modo completamente oposto, ainda assim sinto esse incômodo.

Por mais que eu tenha esse incômodo, não o externalizo para pessoas como um todo. Quando questionada sobre os meus comportamentos, seguido da pergunta “E ele deixa?”, costumo responder que “ele não tem que deixar nada”. Porque, racionalmente, me é inconcebível pedir para ele para fazer algo, qualquer coisa. Somos adultos e a nossa relação se constrói através do diálogo e da isonomia.

Porém, por que há um incômodo? Temos em nossa sociedade um machismo estrutural. Por mais que ele seja um constructo social, está impregnado em nossas ações e inconscientes. Estabelecemos uma cobrança interna também do que nos é cobrado como comportamento socialmente aceito feminino. É um esforço maior quebrarmos essa lógica de pensamento, que é tão dolorosa para nós, mulheres. Uma forma de desconstruir isso em nós, é fazer realmente o que se tem vontade, respeitando o outro com quem você se relaciona dentro de uma lógica de comunhão, de partilha, realmente.  Saio com as minhas amigas, viajo com elas e nada me dá mais prazer do que saber que posso fazer isso e ter a paz de voltar para o meu lar, sabendo que terei um tanto de histórias para compartilhar com o meu companheiro. O que precisa ser priorizado é o diálogo, a observação e a escuta para decidir o que se fazer no seu relacionamento e não a opinião alheia a todo esse processo.

2 comentários em “diálogos: E ele deixa?

  1. Também penso da mesma forma, e tenho um comportamento semelhante, eu é quem tenho que decidir por mim, mas cada vez mais me sinto precionada a ceder, pois meu marido não tem a mesma mentalidade e sempre usa de chantagem emocional pra dizer que eu viajar sozinha afrouxa nossa relacionamento, enquanto vejo a situação apenas como insegurança pessoal. Amo conhecer culturas, pessoas e ter novas experiências. Muito triste ter de lutar pra viver isso, pois considero básico, e nem sempre posso ou quero estar numa viagem exatamente com meu marido, quero e já estive sozinha, ou com uma amiga, é diferente!!! Assim como também ja quis estar só com ele. Enfim, continuo na luta pelo meus direitos e querer!!

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