Como foi a minha experiência no Worldpackers em Portugal?

Por Maria Fernanda Romero

Decidi mudar para Europa meio que por impulso. Recém-formada em jornalismo e desempregada, queria viajar, fazer cursos, estudar e fazer coisas que não tinha a possibilidade de fazer no Brasil. Eu tenho passaporte português, mas sabia que morar na Europa não era tão simples. Já tinha pesquisado e perguntando para algumas pessoas e as coisas pareciam um pouco burocráticas. Além da cidadania portuguesa, para conseguir ser de fato residente europeia e possuir direitos e deveres fiscais, poder usufruir de educação e saúde, eu precisava de outros documentos (algo equivalente ao CPF, à segurança social e ao título de eleitor) e de um endereço no país da minha cidadania, que no meu caso é Portugal.

 

Então, eu precisava morar em Portugal. Por sorte, a passagem mais barata que encontrei para a Europa já era para Lisboa. Comprei no mesmo dia, no mês que decidi me mudar: julho. Comecei a procurar Worldpackers e encontrei um restaurante em uma praia maravilhosa na região do Algarve. O trabalho era para ser Social Media, fazer fotos, cuidar do site e do instagram. Quatro horas por dia com direito a duas refeições. Tudo ótimo! Mandei solicitação na hora. O restaurante ainda não tinha muitas avaliações, o perfil ainda era novo. Fiquei um pouco hesitante, mas eu também era nova, não era? Procurei o restaurante no TripAdvisor e encontrei algumas fotos, algumas reclamações da comida, mas também muitos elogios. Tudo parecia normal e ótimo. Quando o dono me aceitou, fiquei muito feliz! Ficaria lá um mês ou até mais, até eu organizar meus documentos. Estava muito animada.

 

 

Cheguei em Lisboa, fui até a rodoviária e peguei um ônibus para o Algarve. Foram mais 4h de viagem e estava muito, muito calor. Era 1o de Agosto de 2017, o primeiro dia “oficial” do verão, segundo meu anfitrião. Cheguei na rodoviária de Aljezur e ele foi me buscar e me levar para o restaurante. Eu estava louca por um banho, mas como ele já havia dito, era o primeiro dia do verão e tinha muita gente lá, então eu teria que ajudar. Ganhei uma bandeja e fiquei um pouco confusa. Não ia tirar fotos?

 

Região do Algarve, Portugal
Por Maria Fernanda Romero

Lá também trabalhavam outras três meninas. Uma delas era mais exigente, começou a me dar ordens sobre como arrumar os talheres e depois sobre como esfregar o chão. Eu não entendia nada do que estava acontecendo, e comecei a me assustar com o jeito que meu anfitrião me olhava e com as piadinhas que ele fazia. Às vezes, ele me dava uma cerveja e dizia para eu descansar um pouco. Mil coisas se passaram na minha cabeça sobre ele, sobre as meninas.

 

Eu me mantive calma. Eu precisava ficar lá, eu precisava tirar meus documentos. Além disso, eu precisava aprender a trabalhar como garçonete. Era hora da patricinha sair da bolha. Os dias seguintes foram mais ou menos iguais. A gente acordava, uma de nós tinha que ir ao mercado com ele, as outras curtiam a praia maravilhosa. À tarde, a gente começava o trabalho até o último cliente ir embora e normalmente trabalhávamos oito horas por dia.

Região do Algarve, Portugal
Por Maria Fernanda Romero

O dono do restaurante era machista e também grosso. Gritava com a gente e até com os clientes que reclamavam da comida ou da demora. Ele não lavava nem uma louça, nem no restaurante, nem em casa. A gente tinha que limpar tudo e tirar o lixo, até o dele. Mas o pior eram as “piadinhas”.

 

As meninas eram muito legais, o lugar era mágico, todas as pessoas que eu conheci ali também. Eu pensei em reclamar, eu pensei em ir embora, mas a vida lá era incrível. Eu fui levando, vencendo o medo e me apoiando nas meninas e na vida dos sonhos (quase) de verão.

Região do Algarve, Portugal
Por Maria Fernanda Romero

Meus documentos chegaram, o trabalho até que foi ficando divertido. A gente escolhia as músicas do restaurante, e comíamos bem quando não tinha nenhum cliente. Os dias na praia eram ótimos. Eu não tinha porquê ter medo. Eu sabia o endereço dele, o NIF, o endereço do restaurante. Eu falava todos os dias com meus amigos no Brasil. Todos sabiam, que eu estava lá e eu tinha as meninas também.

Mas cada vez ele ficava mais nervoso com o fato da gente estar bem e fazendo amigos na cidade, até que um dia ele proibiu a gente de falar com algumas pessoas. Nesse dia eu resolvi ir embora: era o meu limite. Fiquei na cidade, que é maravilhosa, e pretendo voltar muitas vezes. Depois de já estar em outro país, entrei em contato com a equipe do worldpackers, que foi super atenciosa e tirou o perfil dele do ar. Ele continua criando novos perfis e em mais de uma plataforma, então sempre tem alguma menina lá. Algumas se submetem ao serviço e às grosserias dele, a maioria vai embora assustada.

 

Minha experiência não foi boa, mas eu aprendi muito mais com isso. Voltarei a usar a plataforma, até porque acho genial a ideia, e sei que a maioria dos casos dão certo, e nos casos que dão errado, como o meu, eles têm um ótimo suporte. Entretanto, agora apenas em locais que têm muitas avaliações positivas e provavelmente, que seja dirigido por alguma mulher.

 

Região do Algarve, Portugal
Por Maria Fernanda Romero

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