estória por Isadora Bertolini
em Kaliningrado, Russia, janeiro de 2014
“Você é a brasileira que estava no vôo? Por favor, me acompanhe”, disse o policial com um péssimo inglês, enquanto pegava meu mochilão da esteira. Um gelado invadiu minha barriga, e, enquanto caminhávamos para uma salinha no segundo andar, repassei mentalmente o que tinha que lhe explicar: que eu tinha amigos em Moscou e estava hospedada lá há uma semana, que eu tinha aterrissado em Kaliningrado (esse tequinho de Rússia separado pelos países bálticos) apenas para pegar um ônibus para Gdansk, na Polônia, onde eu também tinha amigos me esperando, e que tinha todas as informações e dinheiro que precisava. Aparentemente, meu russinglês precisava ser aprimorado, porque fiquei quase meia hora nessa sala tentando explicar isso para os três policiais ali. Quando eles finalmente entenderam que eu não ficaria em Kaliningrado e que não oferecia perigo (?) àquela província, me disseram para pegar um táxi para a rodoviária. “Mas quem vai pagar o táxi?”. “Você”. Bati o pé (do jeito sutil e respeitoso que só policiais russos sabem causar). Sabia que ônibus precisava pegar para a rodoviária e não ia gastar a mais porque eles estavam preocupados comigo, ou com eles, ou com os kaliningradistas (?), até hoje não entendi. Vendo que eu estava determinada, um dos policiais pediu para eu anotar o celular dele e mandar uma mensagem assim que chegasse em Gdansk. Outro me fez companhia enquanto o ônibus da rodoviária não saía, me contando animadamente sobre o que sabia do Brasil e como Kaliningrado é o melhor país para se viver. “Você deveria morar aqui, ia amar!”, disse ele antes da despedida. Saí de lá com a imagem mais confusa que se pode ter de um lugar e suas pessoas.
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