Fotografar para experienciar?

Quando viajamos,  muitas vezes reservamos um tempo da viagem para registrá-la em imagens, fotografias e vídeos. A partir desse registro,  criamos uma memória acerca das nossas  experiências e convenhamos,  selecionamos as mesmas para que fiquem do nosso agrado. Correspondam a um objetivo específico que é a forma como desejamos lembrar desta viagem.

Já que temos à mão uma tecnologia que  nos permite fotografar diversas vezes, podemos fazer quantos registros quiser e selecioná -los para serem deixados no nosso banco de imagens,  serem revelados em fotografias  e/ou compor os nossos perfis em redes sociais. Porém, o que aconteceria com as nossas memórias se as nossas fotografias e os nossos vídeos desaparecessem?
No TED “O Eu da Memória e o Eu da Experiência “, Daniel Kahneman problematiza a forma como construímos as nossas memórias a partir de nossas experiências. Ao dar um exemplo destas construções a partir de uma viagem,  ele questiona se sem o registro  lembraríamos da mesma fora daquela experiência.
É importante ressaltar que a memória  não se cria no passado, mas se refere ao mesmo. Ela é construída no presente a partir das nossas reflexões sobre as experiências passadas. Desta forma, a mesma se reconstrói e se reconfigura a partir de novas percepções e análises do indivíduo.
Há quatro anos atrás, viajei com mais seis amigas para passar a semana do Ano Novo em Barra do Una, comunidade de pescadores, a de mais difícil acesso da Jureia,  em Peruíbe. Não tínhamos acesso ao sinal de telefonia,  celulares e internet não funcionavam. Se fosse necessária uma ligação,  você podia enfrentar as filas de um dos orelhões.  À noite, a lanterna se fazia necessária para andar pelas ruas de areia batida.  Tínhamos acesso à luz elétrica e uma casa que apesar dos problemas,  nos salvou. Como eu tinha acabado de voltar de outra viagem em que fotografei horrores, resolvi deixar a câmera e o celular guardado. Um motivo era me afastar um pouco da tecnologia e relaxar. O outro é que uma das meninas tinha uma super câmera e preferia ver as fotos dela. Nunca vi as fotos e foi como se eu tivesse perdido. A dor da perda me correu por meses. Prometeram me entregar as fotos mas depois o assunto caiu no esquecimento.
A loucura dessa história é que muitas vezes sinto que a viagem caiu no esquecimento também. Relembro as sensações mas não consigo materializar em imagens e narrativas. É um esforço grande revisitar essa memória, pois me parece que há um vácuo, um vazio que não permite rememorar.
Como você lida com registros fotográficos de viagem? E com a ausência deles?

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