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MINAS QUE FAZEM // Jana Janeiro & o projeto Batuquenatividade

Conheci a Jana Janeiro na minha segunda visita a Brumadinho, a convite do De rolé por Brumadinho e fiquei encantada com o trabalho que ela realiza juntamente com o ReiBatuque, seu noivo e a convidei para conversar.

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Jana, você poderia nos contar um pouco mais sobre você e a sua formação?

Sou Janaína, a Jana, mulher negra, mais turista do que turismóloga, ávida pela equidade, acredito na educação como forma de transformação e empoderamento dos sujeitos. Formada em Turismo e pós-graduada em Gestão Cultural, atuo como educadora transversal no Instituto Inhotim e sou gestora cultural do projeto Batuquenatividade, onde desenvolvo atividades socioculturais que visam potencializar o território quilombola e suas tradições, através da educação, da música, das artes e das experiências.

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Dia do projeto Pé de Lê no Quilombo Marinhos// Foto: Acervo Batuquenatividade

Como estabeleceu contato com a Comunidade quilombola de Marinhos?

Meu contato com a comunidade quilombola de Marinhos, localizada em Brumadinho- MG, se deu em 2015, intermediada pelo artista quilombola Reibatuque. Neste mesmo ano, comecei a desenvolver ações educativas no Projeto Batuquenatividade.

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ReiBatuque em ação // Foto: Acervo Batuquenatividade

Quais são as suas atividades por lá?

Realizo diversas atividades além das ações itinerantes como o Ateliê Pela Preta e a Vivência Quilombola – Café, Batuque e Prosa, que idealizei juntamente do Reibatuque, que é coordenador e educador musical do Batuquenatividade.
Dentro do escopo da programação educativa do projeto sociocultural desenvolvo atividades que valorizem a cultura quilombola de suas tradições até a contemporaneidade, incentivando o reconhecimento e empoderamento dos envolvidos por meio da arte, música, literatura. Como por exemplo Pé de Lê, ação literária na qual penduramos livros nas árvores do espaço de encontro e convidamos os participantes a “colherem saberes”, escolhendo o livro que deseja levar para casa, além do Espaço de Leitura Quilombê que conta com acervo da temática negra. Ambas atividades citadas têm o intuito de promover a Lei 10.639/03 que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro brasileira e africana no Brasil nas escolas públicas e privadas, mas que não é cumprida e acabam não integrando as diretrizes curriculares.
Com o anseio que crianças, adolescentes, adultos entendam a importância de tratarmos de temas como identidade e alteridade inserimos atividades, para valorizar a cultura, tradição e história do povo negro. Assim como incentivar os participantes a discernir os equívocos que algumas plataformas nos mostra, como por exemplo o uso do termo escravo. É preciso saber que ninguém é escravo, as pessoas foram ou são escravizadas, o termo traz a ideia de uma condição inerente aos seres humanos subjugando a uma condição de passividade e submissão.
De forma crescente vejo a representatividade e o autorreconhecimento da negritude nos participantes.

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Um pouco do trabalho do Ateliê Pele Preta // Foto: Acervo Ateliê Pele Preta

Como surgiu a ideia de criar o Ateliê Pele Preta?

Já faz dois anos que começamos a realizar atividades itinerantes para que o projeto Batuquenatividade que é voluntário, continuasse a executar suas atividades de forma sustentável. Dentre elas, nasceu o Ateliê Pele Preta – coletivo criativo afroempreendedor, que visa a valorização e empoderamento de artistas e artesãos negros através das várias expressões de artes. Trago minha experiência de 10 anos no mundo da moda, mais especificamente em brechós que trabalhei com um acervo amplo para figurino e ressignificar acessórios antigos trazendo uma nova roupagem, por um período criei coleções para marcas conhecidas e feiras de produtores locais.

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Jana Janeiro em ação no Ateliê Pele Preta // Foto: Acervo Ateliê Pele Preta

O que é viajar para você?

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Jana Janeiro na Chapada Diamantina // Foto: Acervo pessoal

A palavra Deslocamento é a que melhor traduz minha ideia e prática de viajar. Não apenas em seu significado puro, mais sim quando ela produz além da sensação física a mental,de sairmos da nossa zona de conforto e da nossa rotina. Abrindo um leque de experiências de vida, de partilha com o outro, de vivência com o novo, com outras culturas, hábitos e costumes. Quando além da paisagem diferente, vem também novos cheiros, sabores e cores, que as vezes nunca vividas e se tornam tão familiares.

Você acredita que o fato de ser mulher influencia de algum modo a experiência como viajante?

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Jana Janeiro na Chapada Diamantina // Foto: Acervo pessoal

Sim. Acredito que a potência do ser mulher já influencia no olhar, no corpo e na experiência única do Ser viajante. Essa condição desperta interesses específicos na condição de ser/estar em viagem, além dos históricos de preconceitos, medos e riscos que só a mulher esta exposta.

Há alguma experiência de viagem que se destaca e você a considera mais especial?

Viajar é sempre incrível na minha opinião, mesmo em trajetos curtos é possível compartilhar o jeito de viver das pessoas, seus hábitos e costumes isso tudo me encantam, o que me faz considerar cada uma especial.
Vou relatar uma das viagens que fiz sozinha para a Chapada Diamantina em 2015. Este destino já fazia parte dos meus planos há anos, ir para este território mágico na Bahia estado que por sinal sou apaixonada e já desbravei alguns litorais e até o sertão, mas a Chapada me encantava. Esta viagem me proporcionou paisagens inesquecíveis e momentos ímpares, de superação e reflexão, cada cantinho da Chapada me relevou particularidades e imensa beleza, mas uma das minhas escolhas feita previamente foi um passeio a Marimbus pelo mini-pantanal, que incluía uma visita a comunidade quilombola de Remanso realizada pelo projeto Grão de Luz Griô que propõe o turismo de base comunitária. Este passeio realmente foi muito especial, poder conhecer um lindo cenário divulgado pelas agências, mas vivenciar algo fora dos roteiros é impagável na minha experiência de viajante. Prezo pelas descobertas no jeitinho da localidade, seus sabores, hábitos, cultura e seu povo. E foi assim este dia imerso na comunidade de Remanso, com uma conversa leve e despretensiosa com o Sr José condutor da canoa, a parada para o almoço em um restaurante no meio do percurso em uma casinha simples com um cardápio tipico incluindo palma refogada e bode ensopado, banho de cachoeira de água negra e uma prosa como moradores produzindo beiju,iguaria feita de fécula de mandioca e redes para pesca.
Andar no fim do dia, pelas ruelas de Lençóis depois de uma intensidade de paisagens, grutas, lagos e cachoeiras, observando o colorido das casas e o transitar de turistas e moradores, tomando um açaí ou bebendo um licor de jenipapo deixou a viagem mais saudosa e gostinho de breve regresso.

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Jana Janeiro na Chapada Diamantina // Foto: Acervo pessoal

Pensando em experiências de viagem enriquecedoras, como surgiu a ideia de criar a vivência cultural Café, Batuque e Prosa?

A Vivência Quilombola – Café, Batuque e Prosa se inicia do desejo de atendermos os anseios de amigos e interessados pelas atividades que compartilhamos nas redes sociais. Instigados pela curiosidade despertada pelas estórias e tradições da localidade, vimos a potencialidade de externalizar o que já vivenciamos por lá. No início de 2017, organizamos a primeira Vivência Quilombola que contou com a participação de 21 pessoas, logo vieram outras, sugiram demandas de escolas públicas e privadas. Em 2018, surgiram algumas parcerias como a de rolê por Brumadinho que oferta um roteiro diferenciado no município de Brumadinho onde a comunidade quilombola de Marinhos está inserida, incluindo um recorte da nossa vivência no roteiro deles intitulada de uma tarde no quilombo.
A vivência Quilombola -Café, Batuque e Prosa tem sido uma experiência prazerosa, repleta de trocas e aprendizado, é possível perceber que é tanto para nós que propomos quanto para quem participa. Os encontros são sempre regados de muita prosa, comida mineira e música, além de um passeio aos patrimônios materiais e uma caminhada pela comunidade descobrindo as memórias e a identidade do local.

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Uma boa roda de capoeira no Quilombo Marinhos // Foto: Sol Brito

 

Quais são os planos para dar continuidade aos projetos em Marinhos?

Eu e o Reibatuque somos sonhadores inveterados, estamos sempre planejando e desejando algo novo, grandioso e feliz para dividimos com todos do projeto e que reflitam no entorno. Para 2018, estamos empenhado na abertura do nosso espaço cultural que abrigará uma casa para execução da Vivência Quilombola, horta orgânica e um espaço para as oficinas do projeto que poderá atender um número maior de participantes. Em breve, contaremos mais para vocês sobre a Casa Quilombê.

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ReiBatuque e seu pai, seu Cambão// Foto: Verônica Manevy
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Dia de festa no Quilombo Marinhos// Foto: Veronica Manevy

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