Mulheres Viajantes: ASUNCIÓN DE PARAGUAY, CAPITAL DE MIS AMORES ~Célia Regina

12647017_1133981079947416_1386201752125613381_nMeu nome é Célia. O Paraguay, para mim, é um grande caso de amor. Passei parte de minha infância fazendo algumas visitas ao interior do país, pois minha avó morou lá por um tempo com meus tios e primos (arredores de Encarnación, fronteira sul com a Argentina). A passagem por Ciudad del Este era obrigatória, que na época se chamava Puerto Stroessner, devido ao ditador Alfredo Stroessner. Até chegar lá algumas outras cidades faziam parte do itinerário, com papai pilotando seu possante veículo: um Fusca no final dos anos 70, e uma Brasilia no início dos 80. E no rádio do carro íamos ouvindo “polcas “ e “guaranias”… tempo bom!

Eu tenho uma história nesse lugar de céu azul, que carinhosamente chamo de “céu guarani”, e lindo entardecer com todos os tons de laranja e vermelho. Sempre quis conhecer a capital, Asunción, eu voltei ainda umas duas vezes para compras em Ciudad del Este, eu precisava ver de perto que o Paraguay não é só o comércio desenfreado da fronteira, com suas lojas de árabes, chineses e muamba. E é disso que vou falar: o Paraguay não é só muamba, não é só máfia de armas, não é só pirataria.

Decidi que iria à Asunción nas férias de janeiro passado. Agendei um hotel pelo Booking.com, reservei um dos últimos assento num voo da Tam, não quis arriscar 21h de viagem de ônibus porque eu estava sem companhia. Preferi 2h aéreas, e olha que sou fã de mochilão. Meu embarque foi um misto de alegria e emoção, eu iria conhecer a capital da minha segunda pátria, as terras guaranis.

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Estación e museo ferrocarril e ônibus de Asunción

Desembarquei no Aeropuerto Internacional Silvio Pettirossi (aviador da Guerra do Chaco), localizado na cidade de Luque, há 30 minutos do centro de Asunción. O dia era incrivelmente lindo. Peguei um táxi do aeroporto com tarifa tabelada por bairros, já sabendo quanto ia pagar, minha corrida custou Gs$120.000,00. Apesar desse monte de zeros, o Guarani é mais baixo que o Real, ficou algo em torno de R$ 60,00 à R$70,00.

Fiquei no Gran Hotel Paraná, um simpático prédio da década de 60, muito bem localizado no centro histórico, café da manhã com músicas de cantores latino-americanos e espanhóis (uma ótima trilha sonora para mim, uma romântica e melancólica sul-americana), e com um café dentro do hotel, que funcionava desde o final da tarde até umas 23h. O hotel conta com um terraço no oitavo andar, onde fica uma piscina e tem uma linda vista para a Baia de Asuncion, com seu imponente Rio Paraguay.

Vesti algo bem leve e fui passear no centro colonial de Asu (é assim que os paraguaios a chamam), fui enfrentar um calor de 36° com sensação de 40°. Me dirigi à SENATUR (Secretaria Nacional de Turismo), localizada na Calle Palma. Lá você adquiri mapas grátis e ainda tira algumas dúvidas. As meninas são muito atenciosas, por me verem sem companhia, me deram toques de segurança, como por exemplo, não tomar ônibus após as 21h por contas de assaltos, afinal, Asu é uma capital, e isso não é só um problema de lá, temos assaltos em todas as grandes cidades. Dentro da SENATUR tem uma feira permanente de artesanato local, livros e souvernirs, funciona todos os dias.

Asu é muito bonita, lembra aquelas cidades maiores do interior. O centro histórico conta com a arquitetura da colonização espanhola. Não chega a ser como Buenos Aires, é menor. Apesar das recomendações, confesso que não andei com medo nas ruas do centro, o policiamento é muito forte, não sei se por ser o centro, ou pela proximidade do Congresso e Palácio del Gobierno. O único problema que vi no centro é quando fecha o comércio, por volta das 20h. As ruas ficam praticamente desertas, sair para algum local só se for de táxi, que não faltam em qualquer horário do dia ou da noite, ou alugar carro, Asu não conta com serviços como Uber ou Cabify ainda. Os recepcionistas do hotel também foram gentis comigo, me alertando para não transitar sozinha no centro depois que as portas do comércio abaixam.

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Phanteon de los heroes de la guerra

As ruas principais do centro histórico são Calle Mariscal Estigarribia, Calle Palma, Calle 25 de mayo, Calle Estrella, Calle Oliva e Calle Cerro Corá. Nestas ruas ficam muitas lojas, restaurantes, empanaderias, sorveterias, lojas da Adidas, Vans, lojas de departamentos (Unicentro, Nueva Americana, uma espécie de Renner de lá, com preços vantajoso), perfumarias, enfim… tem de tudo, mas nada comparado à loucura da fronteira, confesso que tudo bem mais sossegado e agradável.

A cidade conta com alguns shopping centers (Shopping Villa Mora, Shopping Mariscal, Shopping del Sol, entre outros), mas não visitei nenhum deles, acabei não indo de preguiça, pois eu tinha caminhado uma manhã inteira, e também achei melhor ver outras coisas, afinal shopping já é programa clássico de paulistano, e não quis ser lá também o paulistano que só passeia em shopping. As feiras e lojas de artesanatos locais já foram ótimas para mim.

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Palácio del Gobierno, também chamado Palácio de los Lopez

 

Os ônibus de Asu são “muito doidos”! Todos são pintados com cores fortes, muito coloridos, no vidro dianteiro tem muitos adesivos religiosos com engraçados, o painel do motorista é extremamente enfeitado, na parte traseira tem frases típicas ou os nomes dos filhos do motorista, semelhante à para-choque de caminhão daqui do Brasil. São muito velhos, alguns são no estilo “jardineira”, o custo da passagem é de Gs$2.300,00. Apenas uma empresa conta com ônibus novos e com ar-condicionado, mas não é de Asunción, e sim de San Lorenzo, uma cidade que fica a 1h de lá.

As praças do centro são muito agradáveis, nela você vê de segunda à sábado os índios maká  vendendo bolsas, mochilas, porta-moedas e pulseiras feitas artesanalmente por eles com linhas coloridas. Chegam por volta de 9:00h e vão embora às 19:30. Falam espanhol com um pouco de dificuldade, pois eles só conversam entre eles em guarani. A maioria mora na reserva Maká de Luque. Vale muito a pena conhecer o trabalho deles.

As línguas faladas no Paraguay são o Espanhol e o Guarani. Órgãos públicos e ministérios tem os letreiros nas duas línguas. Lá todos aprendem guarani com os pais, conversam em casa nesse idioma, e na escola aprender a grafia, pois faz parte do currículo escolar. Há uma mistura de palavras nas duas línguas, isso é muito comum em conversas e se ouve nas músicas, por exemplo, suco de maracujá é “jugo de mburucuya”, moça bonita é “cuñatay porã”.O fuso horário é uma hora a menos que a do Brasil, e também adotam horário de verão.

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Trocar Real ou Dólar é muito fácil, há muitas casas de câmbio no centro. Eu recomendo a Câmbios Chaco, na Calle Palma, é muito organizada e tem ótimo atendimento. Ao entrar nas casas de câmbio, você vai ver um segurança fortemente armado com espingarda. Tem também os cambistas de rua, são homens, na faixa de 55 a 60 anos em diante, ficam sentados em banquinhos de madeira com uma bolsa transversal feminina, onde guardam “la plata”. Um deles, ao me ver caminhando, perguntou se eu queria “cambiar peso”, (deve ter me achado com cara de argentina do norte ou chilena kkkk).

Não posso deixar de falar sobre o “tereré”, a bebida típica do Paraguay. Sua base é de erva mate com uma mistura de outras ervas e até frutas (menta, hortelã, limão, abacaxi). No verão se faz com água gelada, fica muito refrescante. Todo asuceno anda com sua “termo” (é assim que chamam a garrafa térmica revestida de couro, ricamente decorada) para tomar seu tereré ao longo do dia, desde vendedores de rua á policiais e bancários. É consumido em grupo, quando acaba a água da termo, outro amigo se encarrega de encher as guampas ( é assim que são chamados os recipientes de beber, são diferentes das cuias de chimarrão, tem outro formato). O tereré é uma bebida muito pessoal, não se comprar para tomar num restaurante, é vendido em supermercados na marca “Kurupi” ou “Campesino”, com as diversas finalidades que a pessoa preferir (energia, emagrecer, ou apenas a bebida refrescante), não se coloca açúcar ou adoçante. Se preferir, pode-se comprar as ervas nas praças, que são vendidas por simpáticas senhoras, algumas até ajudam a escolher as ervas de acordo com seu problema, se tem pressão alta, diabetes, etc… aí é só por água gelada na sua guampa (sim, cada um tem que ter a sua guampa, eu voltei de lá com a minha kkkkk). Todo último sábado do mês é o Dia Nacional do Tereré no Paraguay, que para eles é uma bebida para celebrar a amizade. Sua origem é dos índios guaranis, que tomavam em cabaças (porongo para os indígenas). No inverno se faz com água quente, só que a bebida passa a se chamar “mate”. Nunca pode ser feita com água fervida, pois, segundo os índios guaranis, a fervura queima o mate e as ervas que o acompanham. Voltei de lá com guampa, bombilla e três caixas de tereré na mala. Passei a tomar mate quente todas as manhãs, voltei mais paraguaia do que nunca, por sorte sei onde comprar aqui em SP, mas me dá tristeza de lembrar que lá pago tão barato.

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O povo de Asu me recebeu com muito carinho. Desde o taxista do aeroporto, o simpático e falante Diego, a simpática Sra. Zulma da loja de artesanatos e souvenirs, as meninas da SENATUR, o prestativo segurança Ronan da Casa Cultural El Cabildo, e até os índios maká da Plaza de la Independência. Todos foram muito gentis comigo, não tenho nenhuma chatice para contar nesse texto. Realizei um sonho de infância, fiz boas compras pessoais, fiz ótimos passeios tanto pela cidade como pelos pontos históricos. Este foi meu relato sobre uma semana que passei em Asunción, seguramente quero voltar, quem sabe com companhia.

Farei um outro texto falando de alguns pontos para visitar. Até lá!

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Eu na Casa Cultural El Cabildo, antigo Congresso Nacional

Célia

5 comentários em “Mulheres Viajantes: ASUNCIÓN DE PARAGUAY, CAPITAL DE MIS AMORES ~Célia Regina

  1. Adoraria conhecer essa versão do mate doce.
    May, infelizmente o brasileiro tem uma visão equivocada do Paraguay. Tiram suas conclusões por Ciudad del Este, e acham que o país é uma 25 de março.

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