Mulheres Viajantes: Mulheres sozinhas viajam? Sim! ~ por Camila Pastorelli

por Camila Pastorelli

Deserto de sal
Como um deserto tradicional, o salar de Uyuni pode confundir os mais distraídos. A presença de alguém que conheça os caminhos é fundamental para não se perder. Mãe e filho caminham no deserto de sal de Uyuni, durante período de cheias.

Nunca tive problemas em ir a shows de bandas que só eu gostava ou assistir a filmes sozinha. Logo, viajar por aí sem ter alguém conhecido junto não foi algo tão absurdo assim. Uma viagem que gostei bastante de ter feito foi para a Bolívia e Peru em 2012. Foram cerca de vinte dias entre os dois países percorrendo várias cidades de ônibus.

Antes de ir, pesquisei um pouco como eram os lugares para mulheres que viajam sozinhas, pois isso pode apresentar alguns riscos sim, infelizmente. Entretanto, não houve nada que me deixou preocupada a ponto de desistir ou pensar em outra rota.

Gosto bastante de planejar as coisas, então tinha praticamente tudo bem estudado e calculado. Apesar de não reservar todos os hostels com antecedência, tinha anotado as opções que gostaria de ficar, quanto custava, essas coisas. E fui reservando ao longo do caminho.

Entre um ônibus e outro, acabava conversando com as pessoas, que também estavam viajando, e muitas delas olhavam um pouco assustadas: Mas você tá sozinha, sozinha? Eu vim com mais duas amigas e minha mãe já ficou super preocupada. Bom, minha mãe sempre morre de preocupação quando falo que vou fazer algo do tipo. Ela me olha com aqueles olhos que tentam me convencer que essa pode não ser uma boa ideia, como quando disse que ia para a região de Mariana que havia sido destruída pela irresponsável mineração da Samarco em Minas Gerais. Havia tentado ir com algumas pessoas, mas como não consegui, fui sozinha mesmo. E não me arrependi em nada, era uma viagem que precisava ser feita. E no fim, até minha mãe ficou feliz por mim. Escrevi sobre o que vi aqui.

Altiplano boliviano
Laguna Cañapa.

O fato é que os perigos são sim diferentes quando você é mulher e decide fazer uma viagem sozinha. E não preciso nem discorrer sobre como existe machismos em todos os cantos desse mundo que te deixam numa posição de inferioridade e medo em muitas situações. Só para citar um exemplo, lembro de ter pego um táxi em Cusco, Peru, de um ponto que deveria ser uma rodoviária – mas por ser apenas um canto de uma avenida, não tinha lá muito cara de rodoviária – até o hostel que eu havia reservado. O taxista no meio do caminho disse que ia dar carona para um amigo dele também, e eu disse que tudo bem. Eles foram na frente e eu no banco de trás. Começou uma chuva muito forte. Eles então perguntaram de onde eu era, e quando respondi Brasil, os dois viraram instantaneamente para trás para me olhar. Naquele momento senti medo de estar num carro com dois homens completamente desconhecidos, levando em conta o imaginário que existe para as palavras mulher-brasileira- sozinha.

Chegamos próximo ao hostel, mas o carro não poderia entrar na rua, pois era uma super ladeira que estava em obras. O taxista sugeriu que eu esperasse um pouco a chuva passar, mas o medo – apesar de não existir uma ameaça real – me falou que era hora de sair do carro debaixo de chuva mesmo.

Fico pensando se essa história seria diferente se eu estivesse com mais um amigo homem ou se simplesmente eu fosse um homem ali. Se eu não me sentiria ameaçada. E acho que provavelmente não me sentiria.

Altiplano boliviano
Termas de Polques.

Apesar das inseguranças das situações que passamos, o que me encanta em poder viajar sozinha é a possibilidade de estar aberta e conhecer pessoas que você dificilmente conheceria estando em grupo, a possibilidade de mudar de ideia sem ter que consultar ninguém para isso, mesmo tendo planejado anteriormente uma direção.

Por ter uma necessidade de falar, mas não necessariamente ser uma pessoa desinibida, eu me forço a puxar papo com as pessoas, e com isso momentos maravilhosos surgem que fazem com que todas as viagens tenham tido histórias legais para contar, com uma infinidade de pessoas que cruzaram meu caminho.

Essas histórias me fortalecem e me inspiram para continuar fazendo o que faço e estimulando as pessoas a conhecer o mundo, independente de ter companhia ou não. E eu não levanto a bandeira da viagem sozinha, porque viajar em grupo é uma chatice. Não é isso. O que eu acho interessante é poder ter o desprendimento de ir para um lugar mesmo que ninguém mais queria ir. Não fazer disso um impeditivo. Eu vejo pessoa que deixam de fazer coisas incríveis, que elas amam, porque não tem companhia. Perdem shows, eventos e viagens, porque parece que se ela for sozinha, não vai ter graça nenhuma. Meu conselho é: se arrisque a ir sozinha uma vez. E perceba como essa experiência pode ser interessante. Tenho certeza que você irá se surpreender.

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