Turismo é exploração?

No final do ano, como grande parte dos turistas brasileiros, fui curtir o ano novo em um região litorânea. Temos por aqui esta tradição de pular as setes ondas, de curtir o verão à beira mar ou à beira da piscina, usar branco na noite da virada com os pés na areia. Sou deste time e sobrevivo às praias lotadas com muito amor no coração.

Foi em uma caminhada pelo Portal das Artes, bairro relativamente novo de Paraty, no litoral carioca, que me deparei com esta pichação e uma máxima: Turismo é exploração!

Paraty

 

Não é a primeira vez que vejo pichações em lugares turísticos. A primeira vez que vi, estava andando por Barcelona, acompanhada de um catalã que me levou a um mirante da cidade, frequentado por jovens locais. Lembro que quando vi, me deu aquela agonia de estar invadindo um espaço que não pertencia a mim e estar fazendo parte daquela exploração.

A sensação se repetiu ao me deparar com este muro pichado. Desde Barcelona, não só se passaram quatro anos, como muito do que eu entendo por turismo, viagem e relações sociais também. Já sabemos que as nossas relações cotidianas são, em sua maioria, pautadas pela desigualdade. Porém, a naturalização faz com que acabemos por banalizar isso.

Mas não foi em Paraty ou em Barcelona, que a ideia de turismo predatório ficou clara pra mim.

Diário de Bordo: Barcelona

Ponta Negra e o turismo predatório

Comunidade caiçara Ponta Negra, RJ

A comunidade caiçara de Ponta Negra foi o lugar que escolhi pra curtir o ano novo. A partir de uma escolha burguesa, de que eu queria curtir o mar e os pés na areia longe da muvuca de outras praias. O que me permitiria tamanho privilégio? O fato de que o acesso é relativamente difícil. É possível chegar ali de barco ou por uma trilha de duas horas e meia desde a Praia do Sono, que do mesmo modo só é acessível por esses dois meios de transporte. Além disto, a falta de sinal de telefonia celular, internet e energia elétrica afugentam a maior parte das pessoas. A questão é que por lá, a luz havia acabado de chegar.

O ponto inicial é que o meu privilégio de curtir a praia numa boa está calcado na falta de acesso de uma comunidade. Afinal, não foram eles que escolheram viver sem acesso aos ditos elementos da modernidade e ao menos, um posto de saúde. Com certeza, eu não sou a única pessoa a ter esta perspectiva egoísta, mas a reflexão é mais dolorosa e convenhamos que muitas vezes a gente foge disso.

Para além desta questão, o que me pegou bastante foi a forma com que os turistas lidaram com o dia a dia da comunidade. Deboches e falas grosseiras eram uma constante nos restaurantes familiares à beira mar. Exigia-se de tudo: que fosse mais rápido, que tivesse tal e qual ingrediente, que aceitasse cartão e o velho “Vem no capricho, né?” Reclamações sobre os valores cobrados e o som tocado também. Porém, a cena mais gritante eram as crianças em filas indianas carregando malas pesadas com turistas adultos atrás bem como elas sendo guias em trilhas de nível médio e alto. Quando digo crianças, estou falando daquelas com cerca de seis a nove anos. Era ali uma oportunidade de tirar um trocado!

Como vocês se relacionam em situações assim?


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