O projeto Kombosa me carREGA

 

Nesta nova seção do blog, teremos convidadas com projetos incríveis que dialogam com a questão das Mulheres Viajantes. Inaugurando este projeto temos as queridas do Kombosa me carREGA, que tem um projeto incrível pelo Brasil, trabalhando com a agroecologia.

Como surgiu a ideia do projeto Kombosa me carREGA?

A ideia do projeto surge em um contexto aonde eu e Bela estávamos prestes a nos formar na faculdade e nos deparamos com a realidade de ter que buscar empregos convencionais, e não nos víamos em nenhuma das possibilidades à nossa frente, ao mesmo tempo em que estávamos nos dedicando muito à militância dentro da REGA – Rede de Grupos de Agroecologia do Brasil, e gostaríamos de encontrar uma forma de seguir trabalhando pela Rede, que é um trabalho voluntário, mesmo após formadas.

Já tínhamos o sonho de percorrer o Brasil conhecendo experiências com Agroecologia na intenção de fortalecer esse movimento, então decidimos tornar o sonho mais coletivo e propor ele para a REGA, acrescentando o objetivo de passar por Grupos de Agroecologia na busca de articular e fortalecer as ações da Rede em mais territórios.

 

O que significa viajar para vocês?

Segundo um agricultor familiar agroecológico da zona da mata mineira, “viajar cura ignorância”. Após 4 meses na estrada, é sempre uma alegria quando lembramos que o que um dia foi um sonho hoje é nossa realidade, e passamos a conhecer mais de perto os desafios e os prazeres de estar na estrada. Nesse sentido, para nós tem significado muito ter a oportunidade de cada dia, a cada novo lugar, a cada nova pessoa, a cada cultura  e realidade, termos a chance de aprender sobre o mundo através da experiência do outro, e poder ter um novo recomeço a cada dia.

 

Vocês acreditam que o fato de ser um casal de mulheres viajando influência de algum modo as experiências como viajantes?

Uma de nossas motivações a enfrentar o frio na barriga de percorrer as estradas do Brasil e tantos lugares que dizem ser perigosos, especialmente para mulheres, foi ter a convicção de que não queríamos mais deixar que o fato de termos nascido biologicamente do sexo feminino fosse tão determinante em nos impor medos, violências e limitações. Ou seja, desejamos dar um basta em deixar de fazer o que queremos  só porque somos mulheres.

Além disso, vivemos em uma sociedade machista e homofóbica. Diariamente homens perguntam para nós: “Mas são vocês que dirigem a kombi?” e também escutamos bastante: “Mas vocês viajam sozinhas?”.

Sozinhas? Se um homem estivesse viajando com outro homem fariam essa mesma pergunta pra ele também? Já em relação a sermos um casal de mulheres, na maioria das vezes conseguimos tratar com naturalidade e de fato recebemos muito naturalidade em troca. Em geral não nos sentimos acuadas ou agredidas por assumirmos que somos um casal e demonstramos afeto em público, mas aprendemos a nos colocar com firmeza, e não nos conectar com olhares e comentários.  Porém, temos frequentado muitos ambientes majoritariamente habitados por homens, já que estes dominam quase todos os lugares públicos (e às mulheres restam os ambientes privados) como postos de gasolina e o próprio ambiente da estrada. Nos negamos a fingir que somos amigas, mas é real que infelizmente em muitos destes ambientes evitamos trocas afetivas e demonstrações de carinho por nos sentirmos inseguras em um ambiente ameaçador.

 

Há alguma experiência de viagem que se destaca e vocês a consideram mais especial?

Essa pergunta é dificil…rs

Porque mesmo as experiências que a princípio foram duras pra gente nos trouxeram infinitos aprendizados!

Mas podemos ressaltar que sempre que estivemos cercadas por mulheres, especialmente as agricultoras com toda sua simplicidade de olhar para o mundo e coragem de colocar seu espaço enquanto mulher em ambientes tão repressores, foram momentos fortes, de trocas sinceras,  de afetos e cuidados como os de mãe e cumplicidades como de amigas.

 

Como surgiu a ideia de criar o blog?

Criamos o blog quando começamos o processo do Financiamento Colaborativo, que foi o que viabilizou o projeto, (https://benfeitoria.com/kombosamecarrega), pois entendemos que as pessoas iriam querer uma referência mais completa para compreender a nossa proposta e trabalho, antes de contribuir com o projeto. Nossa idéia é que ele fosse um lugar para informações mais permanentes e detalhadas, já que o Facebook tem um papel importante na comunicação que permite as pessoas acompanharem de perto nosso trajeto, mas acaba sendo um lugar de informações mais curtas e dinâmicas.

 

Quais são os planos para dar continuidade ao projeto?

Nossos planos são de percorrer as 5 regiões do Brasil (sonhando alto, todos os estados) pelos próximos um ano e oito meses. Nessa jornada estamos fazendo tanto registros audiovisuais de forma amadora como escritos. Nossa intenção é sistematizar toda essa informação e colocar ela a disposição de quem interessar. Também iremos lançar pequenos vídeos relato ao longo da trajetória. Mas o que faremos após o “término” do projeto, só o caminho irá dizer! rs

3 comentários em “O projeto Kombosa me carREGA

  1. “não queríamos mais deixar que o fato de termos nascido biologicamente do sexo feminino fosse tão determinante em nos impor medos, violências e limitações. Ou seja, desejamos dar um basta em deixar de fazer o que queremos só porque somos mulheres.”

    Que projeto amor! Meu Deus! Que elas realizem o sonho de percorrer todos os estados do Brasil e que inspirem as pessoas por onde passarem!

    E que ser mulher não nos impeça de realizar nada nessa vida!

  2. Um dos projetos mais incríveis que já vi!!! Que realmente faz bater o coração!
    Me lembram o Che e o Granado viajando pela América Latina

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