Por Rafaela Soares

Nesse último fim de semana me aventurei em uma das travessias mais belas e mais difíceis (ao meu ver) do Brasil!

Por que considerei a travessia um desafio?

Por diversos fatores. Um deles é a minha falta de experiência e preparo físico. Sou sedentária, mas amo andar no meio do mato. Considero esse contato com a natureza essencial para a vida. Então, duas amigas e eu decidimos realizar a travessia.  Muitas pessoas disseram que a gente era louca de querer fazer esse trekking nas nossas condições. Mas alguns amigos mais experientes disseram que éramos loucas sim, porém capazes de concluir o desafio (acredite, a mente conta mais que o corpo). Mas mesmo em meio a tantos “avisos” eu ainda não tinha noção da dificuldade. Então, fui! (Acreditava ser um Ibitipoca mais longa. Inocente.)

Ela realmente é linda como imaginava, porém mais difícil do que pensei. Difícil pelo meu sedentarismo, pelo peso (12kg) da mochila, por nunca ter feito trekking com mochilão nas costas e por alguns imprevistos que sempre acontecem, né?

Resolvemos fazer um desvio de trilha para conhecer os Portais de Hércules (muito lindo, super indico) mas não sabíamos que esse desvio iria nos custar 4h de atraso na travessia. Depois fomos descobrir que quase ninguém faz isso. A ida aos Portais é um passeio à parte, e não um elemento da travessia. Logo, esse atraso fez com que fizéssemos alguns dos famosos desafios (Cavalinho e Mergulhão) no escuro e sem lanterna de cabeça; pois as bonitas aqui,  só levaram lanterna de mão. Afinal, esperávamos chegar ao Sino antes do anoitecer, o que de fato só ocorreu quase às 22h.

Algumas considerações:
1 – O peso que você coloca em suas costas triplica ao longo da caminhada. Seja leve e viva melhor.
2 – Você aprende a confiar em pessoas. Sejam elas amigas ou desconhecidas. Não tem opção. Na verdade tem coisas que a gente não consegue sozinho.

3 – A gente acaba abrindo mão de vaidade só pra ter conforto. Aquela cara lavada e sem maquiagem? Também é linda!

4 – Adrenalina inibe fome, dor e cansaço. É impressionante.

5 – Medo é uma coisa muito difícil de evitar. Mas tem como controlar e não contaminar os outros.

6 – Uma barraca e um saco de dormir após comer um macarrão instantâneo podem ser as coisas mais desejadas no fim de um dia.

7 – Você acaba conhecendo pessoas tão legais, que nem sabem o seu nome, mas estavam lá pra chamar o resgate caso demorasse mais um pouquinho que chegar da caminhada.

8 – Você descobre sua verdadeira força quando ser forte é a única opção. Incrível o instinto de sobrevivência.

9 – Você encara cada desafio fazendo analogias com sua própria vida. É tão automático! A montanha é uma terapia! 

10 – Às vezes esquecer os obstáculos, fechar os olhos pro abismo e apenas focar no objetivo é a melhor estratégia pra vencer!

 

Foi sem dúvidas a melhor experiência da minha vida até hoje.

Não tenho noção de como sobrevivi. Na verdade, eu tenho. Tinha alguém lá em cima aliviando o peso da mochila nas minhas costas. Era assustador e tranquilizante sentir a mochila de 12kg ficando leve quando você mais precisava. Obrigada, Deus!

 

Dicas:

• O inverno é alta temporada de montanhismo, então compre seu ingresso com antecedência.
• O ingresso pode ser adquirido na portaria do Parque ou pelo site www.parnaso.tur.br .
• Incluindo duas pernoites em camping e mais dois banhos quentes, o ingresso da travessia sai em torno dos R$90.
• Embora não seja obrigatório ida com guia, é super recomendado. No site do Parque tem uma lista de guias credenciados que você pode entrar em contato.



Meu Check-list:

• Saco de dormir
• Isolante térmico
• Barraca
• Fogareiro
• Gás
• Isqueiro
• Toalha
• Blusa térmica
• Calça térmica
• Gorro
• Luva
• Meias extras
• Lanterna (de cabeça, se possível)
• Comida
• Câmera fotográfica
• Baterias extras (não tem ponto de eletricidade no Açu)
• Anorak
• Casaco quente
• Chinelo
• Protetor solar
• Boné